quinta-feira, 25 de maio de 2017

~~*~~ Melancolia ~~*~~


Oh dôce luz! oh lua! 
Que luz suave a tua, 
E como se insinua 
Em alma que flutua 
De engano em desengano! 
 Oh criação sublime! 
A tua luz reprime 
As tentações do crime, 
E á dôr que nos opprime 
Abres-lhe um oceano! 

É esse céu um lago, 
E tu, reflexo vago 
D'um sol, como o que eu trago 
No seio, onde o afago, 
No seio, onde o aperto? 
 Oh luz orphã do dia! 
Que mystica harmonia 
Ha n'essa luz tão fria, 
E a sombra que me guia 
N'este areal deserto! 

Embora as nuvens trajem 
De dia outra roupagem, 
O sol, de que és imagem, 
Não tem essa linguagem 
Que encanta, que namora! 
   Fita-te a gente, estuda, 
(Sem mêdo que se illuda) 
Essa linguagem muda... 
O teu olhar ajuda... 
E a gente sente e chora! 

Ah! sempre que descrevas 
A orbita que levas, 
Confia-me o que escrevas 
De quanto vês nas trevas, 
Que a luz do sol encobre! 
   As victimas, que escutas, 
De traças mais astutas 
Que as d'essas féras brutas... 
E as lastimas, as luctas 
Da orphã e do pobre! 

João de Deus, in 'Ramo de Flores' 

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